Orlando Fonseca - Escritor e professor aposentado do departamento de Letras Vernáculas da UFSM. Presidente do Coletivo Memória Ativa
A preocupação com os destinos do Centro histórico, com seu rico acervo de arquitetura em art déco, levou um grupo de cidadãos a manifestar, publicamente, a sua disposição em lutar pela preservação do patrimônio cultural de Santa Maria. Isso foi em agosto de 2018, marco inicial do Coletivo Memória Ativa, do qual sou presidente. A partir daquele manifesto, o Coletivo colocou em operação uma série de atividades para chamar a atenção da comunidade santa-mariense para o valor simbólico dos elementos históricos no eixo central que vai da rua do Acampamento à Gare da Estação Ferroviária. Estão neste sítio a Praça Saldanha Marinho, a Avenida Rio Branco, a Vila Belga e o conjunto de prédios ligados à nossa história ferroviária. Neste afã, saudamos com grande expectativa o projeto conduzido pela Prefeitura no sentido de criar um Distrito Criativo nesse espaço.
A rua do Acampamento recebe esta denominação pois foi da povoação originada pelo acampamento de militares da comissão demarcadora do Tratado de Santo Ildefonso (1797), que Santa Maria começa a ser esboçada. O primeiro influxo econômico foi induzido pela presença da ferrovia, com o entroncamento que exigiu a construção de uma grande estação férrea, além das oficinas. Com isso, muitos técnicos e trabalhadores da ferrovia se instalaram na cidade, deixando escolas, uma grande cooperativa (a maior da América Latina) e a Vila Belga. Isso influenciou a formação do comércio local, facilitado pelo transporte ferroviário, e movimentação cultural, pelo trânsito de artistas – a cidade era um ponto de parada necessário no trânsito entre a Capital e a fronteira. Disso se depreende o quanto é importante manter esses valores simbólicos criados na primeira metade do século XX.
A revitalização do espaço formado pela Avenida Rio Branco e Gare é urgente, não apenas para preservar um sítio histórico, mas para apontar ao futuro sem atentar contra a identidade que Santa Maria carrega desde a sua origem. Dentre as inúmeras possibilidades, como as que já se veem, com a reforma de prédios para instalação de diversos negócios, criar um ambiente pulsante, com o foco na economia criativa abre as perspectivas para a circulação de pessoas, ocupando o lugar com vida, pois a vida vem das pessoas. E essas é que devem amar, cuidar e preservar a feição da cidade.
Nosso passado tem um papel fundamental na formação de nossa identidade, pois dele podemos tirar importantes lições de desenvolvimento e progresso. O que seremos no futuro passa muito pelo que vamos fazer, hoje, no centro de Santa Maria.