Pedro Cezar Saccol Filho - Administrador, economista, especialista em Direito Empresarial, mestre em Engenharia de Produção e diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm)
Quando olhamos para o futuro, precisamos entender o nosso passado. A base cultural de um município descreve os sentimentos de um povo e suas origens, por meio de seus aspectos geográficos, históricos, vocacionamento e infraestrutura ofertada, capazes de influenciar gerações.
Nossa cidade tem uma origem pautada na diversidade, com a presença dos indígenas que aqui estavam, dos militares que vieram para defender nossas fronteiras e imigrantes chegados da Europa para colonizar a nossa região. Essa miscigenação deu início a um polo atrativo para investimentos onde, no início do século passado, o comércio e a indústria de transformação favoreceram a prosperidade da região, atraindo a ferrovia e seus ferroviários. Muitas famílias passaram a depender do desenvolvimento sustentado pelo transporte ferroviário, o que originou até mesmo a criação de uma forte cooperativa e escolas profissionalizantes. Nesse contexto, a região da cidade que mais se desenvolveu pela pujança idealista de nossos antepassados foi o entorno da Estação da Viação Férrea (GARE), onde hoje temos um casario centenário que mostra as marcas da nossa história e uma imponente avenida de acesso.
Passaram-se os anos. Escolas de formação religiosa foram enraizadas desde o início do século passado e, mais recentemente, nos anos sessenta, a cidade recebeu uma nova matriz de desenvolvimento por meio da criação da nossa universidade federal. A partir dela, outras instituições de ensino superior se estabeleceram na cidade, tornando-a um reconhecido polo educacional.
Na esteira dessa nova ordem econômica e após a derrocada da Rede Ferroviária, a cidade cresceu em outros eixos, novos empreendimentos foram atraídos para outros bairros e distritos.
Entretanto, diante de novos contextos em que florescem e se aplicam temas como empreendedorismo, inovação e indústria criativa, emerge o embrião de um novo ciclo durante o qual, ocorre a diversificação da matriz econômica regional. Junto com isso, mobilizando-se incondicionalmente a comunidade em conjunto com a liderança do executivo municipal, emerge a possibilidade de, mais uma vez, transformar a cidade por meio da constituição de um importante atrativo turístico e empresarial, potencializando a prosperidade de um microterritório, fundamentado no conceito da "economia criativa", além de oportunizar a preservação do patrimônio histórico e cultural daquela região, haverá também a valorização imobiliária.
E isso pode acontecer exatamente onde tudo começou, sobretudo por dois motivos centrais: primeiro porque o espaço físico está lá, quase esquecido, mas está lá; segundo porque, reconhecendo-se que o centro histórico já foi palco de um forte movimento de desenvolvimento de nossa cidade, agora poderia ser palco novamente do movimento da economia criativa. Agora temos uma grande oportunidade de regenerar aqueles espaços históricos com a participação da sociedade civil organizada, formando-se um ambiente propenso à inovação e ao empreendedorismo, através da atração: de iniciativas criativas, artísticas, culturais; de soluções tecnológicas, inventividade, inteligência e talentos.
Estamos falando do primeiro Distrito Criativo de Santa Maria, onde todas as faixas etárias da população terão oportunidades, de forma orgânica e humanizada, de mostrarem seus talentos com a geração de renda, empregos e qualidade de vida. Esse espaço será uma virada de chave para nossa cidade: já contamos com dois parques tecnológicos e, agora, estamos na iminência da formação de mais um terceiro ambiente de inovação. A combinação de todos esses esforços e iniciativas, que buscam a melhoria contínua de nossa economia, do bem estar de nossa comunidade, da evolução de nossa infraestrutura, ao que tudo indica, poderá nos render a denominação de cidade criativa ou, no mínimo, promissora. Seremos um cluster dinâmico, atraindo empreendedores, permitindo a troca de conhecimentos, formando novos modelos de negócios, melhorando a infraestrutura, a habitação, os usos de espaços e do patrimônio histórico e, assim, transformando o centro histórico em um espaço vibrante para as próximas gerações.
A iniciativa do Distrito Criativo de Santa Maria inaugura novos tempos para o centro histórico, criando novas oportunidades aos estudantes desde as séries iniciais, para despertar o interesse e engajá-los na economia criativa, contemplando as áreas de lazer, de entretenimento, de cultura, de desenvolvimento científico, tecnológico, da inovação e do empreendedorismo que, presumivelmente, se desdobrarão em impactos ao desenvolvimento socioeconômico do nosso ecossistema em curto espaço de tempo. É um projeto consistente de promoção à cultura da inovação e do empreendedorismo para nossa cidade e de desenvolvimento para a região central ao longo dos próximos anos.
As decisões do presente serão os pilares para garantir uma nova matriz econômica, mais diversa, mais pujante, mais viável, mais voltada à cultura da inovação. Com todas as potencialidades do nosso território e ecossistema, a economia criativa assume papel central juntamente com os movimentos de inovação e empreendedorismo que já andam a passos largos na região. O resgate de nossas origens pleiteado junto ao Centro Histórico em comunhão com o estímulo ao movimento da economia criativa colocam a cidade na mira de um horizonte promissor que ampliará as oportunidades para muitos estudantes, empreendedores e trabalhadores. Por meio do resgate do Centro Histórico, Santa Maria se renova e oportuniza a criação do Distrito Criativo que, justamente por ser criativo, também será atrativo ao ponto de se tornar um ambiente agradável de convivência, lazer e humanidade. Somos a cidade dos sonhos que sonhamos. Precisamos, portanto, seguir nesta mobilização, engajar e realizar.