Leonardo Dockhorn - Pesquisador da temática ferroviária, graduado em Design de Produtos, mestre em Patrimônio Cultural pela UFSM, coordenador de projetos da Amigos da Gare (Associação Cultural de Preservação Histórico-Ferroviária - Gare)
A criação do primeiro Distrito Criativo de Santa Maria se apresenta como uma possibilidade de um novo ciclo para a cidade Coração do Rio Grande. Haja vista que a cidade já sucedeu diversos ciclos, que, embora independentes, se entrelaçam, Santa Maria tem historicamente sua origem em um acampamento militar, que dá origem ao nome de uma rua no centro da cidade, um século depois, em 1885, a ferrovia chega a cidade iniciando um ciclo de progresso, desenvolvimento e cultura, ciclo este que se estendeu por diversos anos e deixou marcas profundas na cidade e em sua população. Neste panorama, observa-se construções de origem ferroviária, como a Estação, a Vila Belga, além das inúmeras construções realizadas pela Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, como a Escola de Artes e Ofícios Hugo Taylor, Casa de Saúde e a Escola Manoel Ribas.
Além disso, a ferrovia ainda é presente na lembrança de muitos santa-marienses e gaúchos que passavam pela cidade com destino a outras localidades. Ainda quanto aos ciclos vividos pela cidade, cabe lembrar que o trajeto da ferrovia foi determinado por se tratar de um ponto estratégico em termos da defesa do sul do Brasil e que desenvolvimento trazido pela ferrovia propiciou o crescimento cultural e econômico, incentivando a criação da primeira Universidade Federal do interior do Brasil.
A criação do Distrito Criativo inspira um novo ciclo de cultura, diversidade, produtividade e turismo, trazendo ânimo à região englobada por seu território, que se estende da Estação Férrea, antigo portal de chegada de pessoas, cultura e comércio, se dirigindo ao Centro e através da antigamente denominada Avenida Progresso, hoje Avenida Rio Branco, passando pela Vila Belga e pelo conjunto de edificações estilo Art Déco.
A exemplo de outras cidades, a criação do Distrito Criativo incentiva o uso de espaços em esquecimento e também a geração de renda e o empreendedorismo. Entretanto, a iniciativa só será vitoriosa caso a herança histórica da população seja respeitada, caso contrário se perderá a identidade local. Sendo que a manutenção dessa identidade apenas é possível quando espaços de grande relevância para a população permanecem preservados e seus usos mantenham uma ligação direta com a origem. Desta forma, museus, como centros culturais e de memória, possibilitam que a população se reconheça e os visitantes compreendam a identidade local e passem a respeitar e valorizar a cidade.